Os resquícios do engenho
Genipapo
Antigo casarão construído no período
colonial, que conserva fragmentos da época da riqueza do açúcar, é
atrativo turístico no litoral Norte de Alagoas
Waldson Costa
Repórter
MARAGOGI – O nome do lugar é
referente à fruta Jenipapo, mas é escrito e registrado em cartório
com “G”. Localizado na zona rural de Maragogi, há 16 quilômetros da
cidade, a fazenda Genipapo é um potencial turístico adormecido. De
grande valor histórico e cultural para a região, o antigo engenho
que já foi o mais moderno e produtivo da época de ouro do açúcar,
palco de batalhas e detentor do progresso econômico do litoral
Norte, passa despercebido nos principais roteiros turísticos do
Estado.
Mesmo
assim, o engenho de Genipapo resiste ao esquecimento e surge como um
roteiro alternativo para os turistas mais ousados. Ou seja, para
aqueles colecionadores de lugares inusitados, que não se importam em
fugir da rota pré-estabelecida para garantir fotos e histórias de
viagens exclusivas.
Este é o forte do roteiro do Engenho Genipapo, exclusividade. Como o
acesso não é fácil e poucas pessoas sabem da sua existência e
importância, não é simples chegar. Porém, o lugar vale o sacrifício.
Vale pela presença histórica do casarão datado em 1806, pelos
fragmentos do engenho, pelo som do sino de 1804 forjado em cobre da
antiga capela que foi demolida, pelos relatos históricos da família
Cysneiros Wanderley – proprietários que estão na quinta geração com
o engenho – pelos licores de frutas típicas da fazenda, pelas frutas
e pelo clima colonial que o lugar ainda preserva.
Para chegar até o engenho é necessário deixar para trás o conforto
da modernidade e seguir por estrada de barro. O ponto de partida é o
distrito de São Bento e o caminho a seguir é o da entrada da Usina
São Gonçalo. Zona rural, plantações, canaviais, não há ponto de
referência nem placas indicativas. Portanto, há duas opções: seguir
perguntado aos moradores da região ou se guiar pelo mapa que está
disponível no site
www.maragogi.tur.br.
O sítio
histórico da família Cysneiro Wanderley
A fazenda do engenho Genipapo
está há cinco gerações com a família Cysneiro Wanderley, que
chegaram ao lugar em 1829 e residiram no antigo casarão até 1970.
Hoje, dos herdeiros do engenho, Geraldo Cysneiro Wanderley, que
nasceu no casarão e foi criado na fazenda, ainda vive na propriedade
em uma casa construída ao lado do antigo casarão que guarda marcas
do passado.
Os
outros irmãos, todos conhecedores do patrimônio e da história do
lugar, também estão sempre presentes e fazem questão de contar e
recontar os fatos históricos que ocorreram no engenho.
Segundo Clovis Cysneiro Wanderley o sobrado que deu início ao
engenho foi construído por um português, Correia Leal, por volta de
1806. Sendo adquirido pela família em 1829, quando Sebastião
Mauricio Wanderley comprou e desenvolveu a fazenda para as gerações
futuras. “O engenho Genipapo é considerado um dos mais antigos da
região norte de Alagoas. Seus registros são do período que o
território ainda pertencia a Porto Calvo”, revela ao apontar marcas
históricas que estão espalhadas na propriedade.
Já Carlos Wanderley destaca o processo desenvolvimento que foi
gerado no engenho. “Nossos antepassados já priorizavam pelo
desenvolvimento. Aqui foi um dos primeiros lugares que a cana era
moída por uma tração movida a água. Era uma moenda que para o tempo
aspirava desenvolvimento”, relata sem esquecer da ligação colonial
brasileira. “Segundo nossos avós, muitas máquinas foram compradas
fora do Brasil, para facilitar o transporte da cana dentro da
propriedade foi instalado uma linha férrea para locomover um troller
puxado a tração animal”, completa afirmando que ainda há resquícios
da linha na propriedade.
Sem perder o cunho histórico Geraldo Wanderley, mostra a área onde
ficava uma antiga capela e as marcas da bala do período da revolução
da Cabanada. “Da igreja só resta como lembrança um sino fundido em
bronze, nas portas do sobrado as marcas de bala da invasão dos
Cabanos”, reforça ao afirmar que durante uma escavação em um curral
foi encontrado ossos humanos.
As caldeiras desativadas, os alicerces das construções coloniais e
parte das engrenagens que resistiram ao tempo ainda estão bem
presentes ao redor do sobrado que persiste em registrar a história.
As presenças
dos Cabanos no Genipapo
As marcas de balas ainda estão
crivados nas paredes e nas lembranças do sobrado do engenho Genipapo.
Segundo o historiador Ademário Lins, o Calabar, com a revolução dos
Cabanos chegando ao fim e sem objetivos diretos, o movimento
revolucionário passou a invadir fazendas abrindo as portas das
senzalas. “Foi neste período que o engenho Genipapo foi invadido.
Com o objetivo de libertar escravos, em 1842, os cabanos se
confrontaram dentro da propriedade deixando marcas no casarão
principal”, revela.
Ademário Lins ainda ressalta que períodos antes, no ano de 1637, o
engenho foi invadido por tropas holandesas comandadas por Cristovam
Arcizewski. “Nesta época o território do engenho ainda pertencia ao
distrito de Porto Calvo. E na passagem de holandeses entre o ponto
de embarque, Barra Grande, e a cidade de Porto Calvo milícias
holandesas se fizeram presente em Genipapo”, completa.
CABANADA – A guerra dos Cabanos
foi uma revolta que durou cerca de 18 anos. Iniciou em 1832 em
Panelas de Miranda, Pernanbuco; e terminou em São Bento em 1850,
distrito de Maragogi, Alagoas. Confronto que uniu índios, negros de
quilombos e nativos da região que foram massacrados pelas tropas
portuguesas.
Geraldo, Clovis e Carlos Wanderley
Turismo no
rastro da história
As visitas ao engenho Genipapo
ainda são bem reduzidas. Como o lugar não está em roteiros formais,
as visitas são feitas esporadicamente por caçadores de rotas
alternativas. Para quem chega à Maragogi e está disposto a conhecer
as histórias e os sabores do antigo engenho a secretária de cultura
do município e alguns moradores da região podem garantir o primeiro
contato para a visita.
A
propriedade é privada, mas os atuais donos recebem os visitantes com
empenho. Não há custo para visitação e o tempo de permanência pode
variar conforme o interesse do visitante. O turista paulista que
estava de férias com a família em Maragogi, Carlos Belistras, esteve
no engenho e confirmou o potencial turístico-histórico do lugar.
“Não imaginava fazer um roteiro histórico em Maragogi. Vim pelas
belas naturais, pelas praias, e num convite informal de amigos sou
jogado em um lugar que ainda respira história. Adorei a oportunidade
e mais ainda os sabores das frutas que não conhecia, como o do
próprio jenipapo”, coloca.
O roteiro histórico Engenho do Genipapo é um projeto que foi
elaborado por alunos e instrutores do curso “Brasil, Meu negócio é
Turismo”, programa de capacitação do Governo Federal que vêm
conseguindo adaptar novas formas de turismo em pólos turísticos já
conceituados. “Este é um roteiro que pode surgir como opção para a
baixa temporada da região. O potencial existe, basta alguns fatores
ser ajustado”, completa um dos instrutores do programa, Guillermo
Novolísio.
Turma do "Brasil, Meu Negócio é Turismo" e turistas.
Fonte: O Jornal
Fotos Waldson Costa
Infografia: Guillermo Novolisio
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